Caso Americanas: entenda o que é risco sacado e como foi usado pela varejista

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As operações de risco sacado ganharam destaque nos últimos dias, pois foram tema central no escândalo contábil da Americanas.

Especialistas do mercado financeiro apontam esta prática como um dos principais motivos para o rombo bilionário que pegou a todos de surpresa. 

Também conhecida como “forfait”, risco sacado é uma forma de crédito nas negociações entre empresas, fornecedores e bancos.

No entanto, como o próprio nome sugere, elas são arriscadas e são alvo de alertas de instituições como a CVM. 

Não é à toa que provavelmente o rombo bilionário da varejista é fruto disso.

No início de janeiro, a empresa imitou comunicado ao mercado informando que foram detectadas inconsistências contábeis na casa dos R$20 bilhões. 

Logicamente, este é apenas um valor inicial frente ao que a empresa agora deve a seus fornecedores.

O escândalo culminou com uma queda histórica das ações, que bateram recorde já alguns dias depois. 

Mas, afinal, que tipo de operação é essa e como ela se deu no caso Americanas? Continue a leitura para descobrir!

O que é risco sacado?

O risco sacado é uma operação na qual uma empresa — neste caso, a Americanas — faz um acordo com o banco que ele libere dinheiro primeiro para pagar um fornecedor. Portanto, a dívida com o fornecedor fica quitada e passa a ser devida ao banco.

Os juros desse tipo de operação podem variar bastante, sendo influenciados principalmente pelo prazo. Ou seja, quanto maior for o tempo em que a empresa fica devendo o banco, maior fica a dívida. 

Por isso se dá o nome de risco-sacado, já que a instituição financeira é que se submete ao risco de não receber o valor.

Exemplo: uma varejista precisa comprar um estoque de produtos com um de seus fornecedores. Existe um prazo para o pagamento, mas antes que ele termine, um intermediário financeiro paga o valor devido. Logo, a varejista passa a dever ao banco intermediário

No Brasil, é comum grandes varejistas utilizarem o risco sacado para facilitar o relacionamento com fornecedores.

Segundo analistas, outros grandes nomes além da Americanas também recorrem a ele, como Magazine Luiza e Via Varejo. 

Portanto, é uma prática comum e não há nada de ilegal. No entanto, é também uma operação que merece atenção do setor contábil justamente por ser facilmente deixada de lado e provocar rombos como o da Americanas. 

fachada americanas
Escândalo contábil da Americanas levantou debates sobre risco sacado

Por que a operação não é recomendada?

Há anos a CVM — Comissão de Valores Mobiliários — vem alertando contra as operações de risco sacado. Nos últimos dias, após o escândalo da Americanas, outras nove varejistas foram questionadas a respeito. 

Embora não seja ilegal, a prática é alvo de forte crítica da entidade. Em ofício circular emitido em janeiro do ano passado, a CVM alerta para o risco de crédito praticado pela instituição financeira.

A CVM também recomenda que as auditorias dos balanços contábeis devem deixar as empresas cientes do risco dessas operações.

No ofício, inclusive, é indicado como alternativa a contratação de um desconto de duplicatas.

“As áreas técnicas da CVM entendem que os auditores devem dedicar especial atenção a estas operações, sobretudo quando envolverem companhias altamente alavancadas (endividadas), pelo potencial risco de distorção da realidade econômica a ser reportada (gerenciamento de estrutura de capital).”

Em ofício anterior, de 2016, o órgão alertava sobre os riscos de distorção e desvios possíveis nesta operação.

“O fornecedor emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso, apresenta um Ebitda maior. A companhia compradora, por sua vez, não reconhece um passivo oneroso junto ao banco, mas o passivo de funcionamento “fornecedores”: Seu estoque fica inflado e a margem bruta com vendas distorcida”.

A CVM ainda alerta para o problema de tentar escapar de compromissos de financiamento, que servem para proteger os interesses dos credores, os covenants financeiros.

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