Sérgio Rial, último presidente executivo das Americanas (AMER3) e responsável pela descoberta do rombo bilionário na varejista, se reuniu com agentes do mercado na última semana. E um termo foi destaque nesta conversa: covenants.
Anúncios
Na ocasião, essa palavra foi usada para explicar como a dívida de mais de R$20 bilhões da empresa pode ficar ainda pior. Rial renunciou ao cargo de presidente nove dias após tomar posse, mas explicou a situação da varejista.
As inconsistências contábeis encontradas no balanço possuem o que a varejista chamou de “efeito caixa imaterial”. No entanto, elas ainda podem resultar em consequências ainda mais preocupantes.
Anúncios
O que são covenants financeiros?
Quando se empresta dinheiro para alguém, o credor sempre quer alguma garantia de que receberá seu pagamento de volta, certo? De forma mais abrangente, covenants são uma forma de garantia em empréstimos e financiamentos.
Mais especificamente, eles são garantias de que os termos do acordo serão cumpridos. Assim como imóveis podem ser usados como garantia, por exemplo, esse tipo de ferramenta também pode.
No entanto, esses covenants financeiros são especificamente aplicados a empréstimos entre credores e empresas. Eles servem para dar à instituição que emprestou o dinheiro mais segurança e a garantia de que a empresa não deixará de cumprir o que foi acordado.
Anúncios
Os covenants são comuns em grandes financiamentos, especialmente os realizados por empresas que estão emitindo debêntures — títulos de crédito negociados no mercado de capitais.
Como funcionam?
Os covenants são garantias de mais segurança para o credor de um empréstimo. No universo empresarial, isso costuma funcionar com a imposição de obrigações financeiras, como limites de endividamento.
Por exemplo: um investidor/credor empresta dinheiro a uma empresa, investindo nos debêntures que ela emitiu.
Para aumentar sua segurança, a parte credora impõe algumas condições, como: a empresa não pode elevar a relação entre sua dívida e o indicador Ebitda (condição bastante comum nesses contratos).
Isso é um covenant. Se a empresa descumprir o acordo e se endividar excessivamente, ela deve remunerar o credor/investidor.
Desta forma, a empresa é desencorajada de alavancar ou se endividar demais, dando mais segurança de retorno ao credor.
Do contrário, o descumprimento se tornaria uma bola de neve, deixando a dívida inicial mais cara. Afinal, o mecanismo remunera o investidor se a empresa se endividar excessivamente.
Qual a relação entre covenants e o rombo bilionário da Americanas?
O rombo de R$20 bilhões identificado na Americanas aumenta excessivamente o endividamento da empresa. Isso com certeza bagunçou as demonstrações financeiras, aumentará muito os níveis de liquidez, alavancagem etc.
Em outras palavras, a Americanas descumpriu seus covenants financeiros. O erro contábil supera as margens aceitáveis por seus credores, tanto bancos quanto investidores de seus debêntures.
Como aponta análise do portal Invest News, “caso o ajuste contábil da varejista fique negativo em R$20 bilhões, isso seria suficiente para transformar seu patrimônio líquido (R$14,7 bilhões) em negativo”.
As garantias de empréstimos contribuirão para aumentar ainda mais o endividamento, o que, por sua vez, supera os limites de endividamento. Isso deve obrigar a varejista a renegociar essas dívidas ou entrar com um pedido de recuperação judicial.
Em teleconferência na semana passada, o ex-CEO Sérgio Rial, disse que percebeu receptividade dos bancos (credores). Por isso, um possível acordo de suspensão da cobrança das dívidas estaria no radar.
O conteúdo ajudou? Então compartilhe e leia também: Crise na Americanas derruba fundo de renda fixa do Nubank. Entenda!