
Dificuldade para lidar com as finanças, infelizmente, é um mal presente na cultura da família brasileira. Estima-se que mais da metade de nós não consegue poupar. E isso acaba influenciando a educação financeira infantil.
Anúncios
A pandemia e todas as consequências desencadeadas por ela acabaram afetando ainda mais esse aspecto. Segundo pesquisa realizada em abril deste ano pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,7% das famílias brasileiras estão endividadas.
Aliado a isso, praticamente metade dos jovens com idades entre 18 e 24 anos não realiza o controle das finanças pessoais (47%). É o que aponta uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil)
Anúncios
A principal justificativa é o fato de não saber fazer (19%), sentir preguiça (18%), não ter hábito ou disciplina (18%) ou não ter rendimentos (16%).
Por outro lado, 53% afirmam controlar receitas e despesas, e apesar de bastante conectados, 26% ainda utilizam o tradicional bloquinho de papel para organizar o orçamento.
Segundo a educadora e psicóloga Angelica Rodrigues, que também é autora da coleção “Crescer e Enriquecer”, uma pessoa endividada tem mais chances de desenvolver problemas emocionais, digestivos e perder produtividade.
Anúncios
E esses impactos negativos acabam sendo absorvidos pelas crianças da família. Por isso é importante pensar em educação financeira infantil no núcleo familiar e que os pais sempre se questionem: “será que eu estou sendo um bom modelo?”.

Pais envidados podem gerar filhos com problemas financeiros
A psicóloga Angelica destacou que os pais podem tentar ensinar seus filhos a lidar com dinheiro, mesmo que eles mesmos não sejam especialistas no assunto.
Porém, ela destaca que se os adultos responsáveis pela educação da criança não organizam suas finanças e têm atitudes irresponsáveis, os filhos tendem a seguir o mesmo caminho, absorvendo esse comportamento.
“O primeiro passo para os pais se saírem bem com a educação financeira infantil de seus filhos é se reeducando. É preciso que eles resolvam seus próprios problemas financeiros, mudem atitudes e se informem.”
O segundo passo, explica a especialista, é trabalhar com a criança aspectos que são importantes para os adultos. Como, por exemplo, o tempo de espera para ganhar um brinquedo ou fazer um passeio.
De acordo com Angelica, a criança tende a levar essa experiência para a vida financeira e saber a hora certa de comprar.
Educação financeira infantil deve respeitar faixa etária e fases de aprendizado
Educar financeiramente não é tarefa fácil, principalmente quando se trata de crianças, que possuem seu próprio aprendizado, no seu tempo.
Por isso, Ana Paula Hornos, escritora e consultora de finanças, acrescenta que é necessário “respeitar a linguagem, as faixas etárias e as fases do aprendizado e desenvolvimento das crianças” para alcançar o resultado esperado.
E a autora do livro “Crise Financeira na Floresta” concorda que um dos pontos principais é que os pequenos devem ser ensinados a tomar decisões financeiras sem agirem por impulso.
Essa observação se aplica principalmente em situações de apelo ao consumismo, quando nosso cérebro tende a evitar dor e tensão e busca o prazer, que no caso é comprar.
“É possível treinar as crianças desde o berço a respeito de valores e comportamentos importantes na fase adulta para lidar com dinheiro, como por exemplo, a paciência, organização, disciplina, planejamento, gratidão e doação.”
Todo o processo começa com a organização
Ter organização na vida como um todo é essencial para evitar problemas financeiros. Por isso, esse aspecto deve ser observado também na educação financeira infantil. Quanto antes for ensinado para a criança, melhor.
É importante que os pais definam com os filhos, por exemplo, os lugares para guardar brinquedos, livros, como organizar o material escolar e até a questão de horários.
“As crianças absorvem tudo o que está no ambiente. Então se a gente procura oferecer um ambiente organizado e saudável, isso vai ser levado para as finanças futuramente”, explicou Angelica.
A educadora também falou sobre a importância de a família incentivar o filho a sonhar e buscar um talento. Uma vez que, no futuro, esses aspectos podem ser usados em uma atividade profissional.
Isso porque pessoas insatisfeitas com seu trabalho e área de atuação tendem a ficar entediadas e a buscar uma compensação. O que costuma vir por meio do consumo e acaba deixando muita gente endividada.
O papel da mesada na educação financeira infantil
Especialistas garantem que a mesada é uma boa ferramenta de educação financeira infantil.
A idade correta para começar é entre sete e oito anos, quando a criança já conhece operações básicas de matemática para fazer contas e lidar com troco.
A especialista Ana Paula explicou que os pais devem seguir três finalidades para determinar o valor da mesada
- Mostrar que dinheiro é recurso limitado;
- Ensinar valores e princípios;
- Praticar a autonomia.
A mesada realmente deve ser um recurso limitado. Por isso é preciso definir quais gastos ela vai cobrir.
Por exemplo: se for destinada à cantina, figurinhas de álbum e cinema, ela deve ser suficiente para tanto, sem que falte dinheiro.
“Ela deve ser justa. Nos dois sentidos: justa no sentido de justiça, que seja razoável dentro dos critérios escolhidos; e justa no sentido de apertada, para que a criança tenha que exercitar escolhas e prioridades.”
Ana Paula destacou que é preciso esperar e poupar, saber priorizar, diferenciar o que é necessidade e desejo. Além de saber doar e repartir são princípios importantes a serem ensinados na educação financeira infantil.
“É importante que a criança aprenda a dar três destinos à mesada: a poupança, o uso e a doação.”
A autora ainda recomendou que os pais pratiquem a autonomia com os filhos dentro dos critérios escolhidos para a mesada. Mesmo que isso gere erros, os pais não devem emprestar mais dinheiro ou cobrir arcar pelo erro.
“Melhor cometer um erro e passar aperto financeiro com a mesada de pequeno, do que ficar no negativo quando adulto. Pais e mães devem permitir que seus filhos exerçam autonomia e deixem as consequências naturais ensinarem. É de pequeno que se aprende!”, concluiu Ana Paula.
Como a psicologia financeira pode ajudar sua família
O desenvolvimento do comportamento econômico tem um viés psicológico por trás. O que auxilia na compreensão do processo de aprendizado, desenvolvimento do raciocínio lógico e da maturidade emocional.
“A psicologia traz o conhecimento que nos ajuda a desenvolver metodologias que podem realmente ser aplicadas”, contou Angelica Rodrigues.
A especialista explicou essa afirmação ao comparar o raciocínio lógico e herança no assunto entre uma criança de três anos e uma de dez, mostrando a importância do processo de aprendizagem adaptado às fases da vida.
“Na criança de dez anos, pode-se aplicar mais desafios e tarefas e cobrar mais resultados. Uma criança de três anos ainda não sabe abstrair. Não tem como apresentarmos para ela conceitos mais abstratos, porque ela simplesmente não vai entender”, disse Angélica.
Contribuições de Ana Paula para a Educação Financeira
No que diz respeito à educação financeira infantil, Ana Paula Hornos escreveu a coleção didático escolar “Educação Financeira e Valores” para Ensinos Fundamentais 1 e 2, lançado pela Editora FTD.
Ana Paula também é autora do livro “Crise Financeira na Floresta”, que foi montado em versos com personagens da floresta para ser lúdico às crianças. A obra na loja virtual da Tróia Editora.
“Temos a cigarra como personagem principal que em troca da dívida que faz com a formiga, dá sua viola em garantia. O problema é que ela faz o mesmo com vários bichos, sempre com a mesma viola!”, disse Ana Paula.
O livro fala sobre dívidas, empréstimos, juros e empreendedorismo de forma leve e divertida.
“A ideia é mostrar às crianças desde cedo, de forma didática, a importância do trabalho e de ser responsável com o dinheiro e as consequências que as dívidas podem trazer”, explicou a autora.
Apesar de ser indicado para crianças entre oito e 12 anos, a obra conta com um encarte para orientar pais e educadores nas discussões sobre conceitos e comportamentos trazidos na história da floresta.
A autora também indicou a leitura para qualquer pessoa que queira entender como acontece uma crise financeira, já que as economias brasileira e mundial seguem conturbadas.
Além disso, Ana Paula é empresária, educadora, coach e palestrante.
Coleção ‘Crescer e Enriquecer’ é de autoria de Angelica
Outra personagem importante desta reportagem, Angelica Rodrigues é psicóloga, educadora e escritora da coleção de educação financeira infanto-juvenil “Crescer e Enriquecer”, pela Editora Humanidades.
A coleção conta com nove títulos para o Ensino Fundamental, sendo oito já publicados, mais um guia de orientações para os pais e professores.
Os títulos são:
1. A riqueza está em toda parte
2. As sementes da riqueza
3. Davi e a árvore da riqueza
4. A receita da prosperidade
5. Uma escada chamada vida
6. Dinheiro nasce em árvore?
7. Isabela e o segredo da riqueza
8. O mistério do Vale
“Nosso propósito não se limita a ensinar conceitos financeiros, mas principalmente trabalhar os aspectos emocionais e comportamentais atrelados ao uso do dinheiro”, comentou Angelica.
Ela explicou que a meta das obras é trabalhar com crianças e jovens a possibilidade de eles irem além do patamar até onde chegaram seus pais, para que eles tenham chance de conquistar seu sonho na vida adulta.
“Instruir sem preparar o emocional é como plantar semente num solo pedregoso. Assim, pretendemos ajudar os pais e professores a adubarem essa terra fértil na mente e coração de seus filhos e alunos, para que seja possível formarmos uma sociedade mais justa”, concluiu.
Além das literaturas infanto-juvenis, Angelica escreveu o título “Família, afeto e finanças – como colocar cada vez mais dinheiro e amor em seu lar”, publicado pela Editora Gente e voltado para adultos.
A autora também participa como docente do curso online Riqueza de Dentro pra Fora. Para acompanhar algumas aulas gratuitas, basta clicar no link destacado acima.
Gostou do artigo? Então deixe a sua opinião sobre qual a importância dos pais na educação financeira infantil.