O cenário é de dólar em alta. Mas afinal, até onde vai esse movimento? Segundo os especialistas, a expectativa é que a cotação da moeda americana deve aumentar ainda mais. Os motivos são diversos.
Há um quadro que combina a instabilidade do mercado internacional e as incertezas políticas e econômicas do Brasil. Fatores como a elevação dos juros americanos e as eleições brasileiras são peças fundamentais para o dólar em alta.
No Brasil, além da inflação, teme-se que o dólar em alta abale as expectativas dos investidores o que, por sua vez, levaria a economia a perder ainda mais seu ritmo. Além disso, com consequências sobre os investimentos das empresas e sobre o mercado de trabalho.
O economista Lívio Ribeiro, do Ibre FGV, determinou duas variáveis que resultaram na valorização do dólar. Em sua avaliação, apenas 5% da alta da moeda americana frente ao real pode ser explicada por aumentos de riscos na economia brasileira. São elas:
Elevação dos juros nos Estados Unidos
O FED, Banco Central dos EUA, elevou neste mês a taxa de juros pela segunda vez neste ano. O intervalo agora é entre 1,75% e 2% ao ano. Além disso, indicou que vê outras duas altas ainda neste ano para combater o avanço da inflação.
No Brasil, o mercado de câmbio e a bolsa acompanham os desdobramentos da política monetária norte-americana. Isso porque com taxas mais altas, o país se tornaria mais atraente para investimentos aplicados atualmente em outros mercados, como o Brasil.
Isso motivaria uma tendência de alta do dólar em relação ao real. Após a divulgação da decisão do FED, o dólar, que estava caindo, chegou a subir sobre o real. No entanto, em seguida passou a oscilar. Já o Ibovespa se manteve em queda.
Juros brasileiros estão baixos
Apesar do cenário adverso, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu manter a taxa básica de juros da economia em 6,50% ao ano. O menor patamar histórico.
Isso porque, se por um lado a Selic mais baixa é benéfica para a atividade econômica, por outro, ela diminui os ganhos de quem quer investir no mercado de dívida brasileiro.
O motivo é que o Brasil também despencou no ranking dos juros reais. Fator que realmente fazia o investidor internacional ganhar dinheiro no país.
De acordo com o ranking do site MoneyYou, o Brasil caiu da 3ª para a 7ª posição entre os maiores juros reais do mundo. Estamos atrás de Argentina (14,29%), Turquia (8,38%), Rússia (4,44%), México (3,58%), Índia (2,94%) e Indonésia (2,92%).
País e Juro real | ||
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1 | Argentina | 14,29% |
2 | Turquia | 8,38% |
3 | Rússia | 4,44% |
4 | México | 3,58% |
5 | Índia | 2,94% |
6 | Indonésia | 2,92% |
7 | Brasil | 2,33% |
8 | África do Sul | 1,45% |
9 | Colômbia | 1,08% |
10 | China | 0,92% |
11 | Malásia | 0,88% |
12 | Cingapura | 0,81% |
13 | Filipinas | 0,48% |
14 | Chile | 0,28% |
15 | Nova Zelândia | 0,26% |
16 | Tailândia | 0,02% |
17 | Polônia | -0,15% |
18 | Canadá | -0,21% |
19 | Hong Kong | -0,21% |
20 | Austrália | -0,23% |
21 | Coreia do Sul | -0,51% |
22 | Estados Unidos | -0,59% |
23 | Israel | -0,73% |
24 | Japão | -0,96% |
25 | Grécia | -1,04% |
26 | República Tcheca | -1,10% |
27 | Suíça | -1,30% |
28 | Taiwan | -1,33% |
29 | Itália | -1,38% |
30 | Dinamarca | -1,53% |
31 | Portugal | -1,63% |
32 | Holanda | -1,72% |
33 | Espanha | -1,72% |
34 | França | 1,82% |
35 | Alemanha | -1,82% |
36 | Bélgica | -1,92% |
37 | Reino Unido | -2,00% |
38 | Suécia | -2,11% |
39 | Áustria | -2,25% |
40 | Hungria | -2,28% |
Média geral | 0,36% |
Ações do Governo Federal para segurar o dólar em alta
1 – Swap Cambial
Diante da forte valorização do dólar, o Banco Central (BC) intensifica a sua atuação no mercado de câmbio por meio do chamado swap cambial. O swap é um tipo de derivativo que envolve a troca de indexadores.
O que isso significa? Os swaps são contratos para troca de riscos, recursos de investimento. A finalidade é dar “proteção” aos investidores, contra variações bruscas no mercado de câmbio, com dívida na moeda externa.
O BC oferece um contrato de venda de dólares, mas não entrega o produto. No vencimento desses contratos, o investidor se responsabiliza a pagar uma taxa de juros sobre o valor deles e recebe do BC a variação do dólar no mesmo período.
2 – Reservas Internacionais
As reservas internacionais são os recursos que o país tem em moeda estrangeira. No caso do Brasil, elas não são apenas dólares guardados em um cofre.
Cada país tem sua moeda, mas no cenário internacional, o dólar é a mais aceita. Ela é considerada a mais segura. Cada governo tem sua máquina de imprimir seu próprio dinheiro, mas o lastro das reservas internacionais e, dólares são uma maneira de gerar confiança e garantir o valor da moeda local.
3 – Aumentar a taxa Selic
Apesar do BC já ter negado essa medida, o aumento da taxa Selic pode ser uma ferramenta para seguração a alta do dólar. Isso porque aumentando os juros, os investidores estrangeiros se interessam em investir no Brasil, e a liquidez da moeda aumenta.
Tendência de mais altas?
O mercado fez na semana passada ajustes em suas projeções para o câmbio, inflação, e Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Os dados foram revelados pela última pesquisa feita pelo Banco Central e divulgada pelo relatório Focus.
No câmbio, a mediana das expectativas avançou novamente, passando de R$ 3,48 para R$ 3,50 para o final de 2018 e de R$ 3,47 para R$ 3,50 para o fim de 2019. Já as expectativas para a taxa Selic deste ano e do próximo se mantiveram estáveis, em 6,50% e 8%, respectivamente.
Muito por isso, existe espaço para novas valorizações do dólar. Motivadas, principalmente, pela insegurança em relação à disputa presidencial. Uma pressão que já atua sobre o mercado financeiro, especialmente na bolsa de valores e dólar, e pode ser reforçada à medida que crescem as incertezas político-eleitorais.
O sentimento é que a perspectiva de vitória de um candidato não alinhado com as ideias de reformas econômicas e de ajuste fiscal aumente ainda mais buraco crescente das contas públicas. Com isso, atiça ainda mais o ânimo do investidor, resultando numa correria do dólar em busca de proteção e refúgio.