
Embora criminoso, o famoso salário pago por fora é uma prática ainda muito comum em empresas brasileiras. Se você é um dos trabalhadores que recebe desta forma, fique neste artigo para entender quais consequências isso pode trazer para vocês.
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Caso esteja em dúvida sobre o que caracteriza esse tipo de infração, saiba que qualquer valor que pague a prestação do seu serviço e não está registrado no contracheque, é salário pago por fora.
Geralmente, esse tipo de acordo é negociado logo na contratação. O patrão ou recrutador oferece um salário x, mas propõe que parte do valor seja pago separadamente, ou seja, em envelope ou direto na conta, sem constar na folha de pagamento.
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Exemplo: um empregado que tem salário total de R$3 mil, mas apenas R$2 mil constam no contra cheque e o valor restante é depositado separadamente.
Outra forma comum, é quando o patrão paga um valor a mais, também sem registro na folha de pagamento, a título de ajuda de custo. Porém, se esse valor supera o custo que o empregado realmente tem, também pode ser caracterizado como pago por fora.
Exemplo: um empregado que, além do salário registrado na folha, recebe R$1000 de ajuda de custo para a gasolina que usa para trabalhar. Se, eventualmente, a Justiça ou órgão fiscalizador constatar que esse empregado gastava apenas R$200 de gasolina, o valor restante poderá ser entendido como pago por fora.
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Sim, isso acontece muito, mas é crime, conforme aponta o artigo 1º da Lei 8.137/1990. Se você é empregado, pode ficar tranquilo, porque quem está cometendo o crime é o empregador.
Porém, esse erro também trará consequências negativas para você!
Quais são as consequências para quem recebe salário pago por fora?
A consequência para quem recebe salário pago por fora, é que qualquer benefício trabalhista ou previdenciário que venha a receber no futuro, será inferior.
Isso porque a maioria deles é calculada com base no salário registrado na folha de pagamento. Veja a seguir!
Seguro-desemprego, verbas rescisórias, 13º salário e férias
O seguro-desemprego é pago quando o trabalhador é demitido sem justa causa e o seu valor é calculado com base nos três últimos salários que constam na folha de pagamento.
Logo, se o que consta na folha é apenas uma parte do que o trabalhador realmente recebe, o valor do seu seguro será bem menor que o salário que recebia. E isso não deveria acontecer, porque o objetivo do seguro é justamente não deixar o trabalhador na mão.
Mas se esse trabalhador recebia uma parte de seus ganhos sem registro, vai sentir a diferença na renda. Isso não aconteceria se tivesse recebido o salário cheio com o devido registro em folha.
A mesma lógica vale para verbas rescisórias, como o aviso prévio, férias e 13º salário. Todos são calculados com base na remuneração que consta no contracheque. Sendo assim, quem recebe o salário por fora terá um valor bem menor nesses benefícios.
Fundo de Garantia
O Fundo de Garantia de quem recebe salário por fora também é afetado. No final do contrato de trabalho, o saldo disponível para o trabalho será menor do que se a remuneração tivesse sido integralmente registrada na folha.
Afinal, a lei determina que a empresa deve recolher 8% do salário bruto do funcionário e depositar no FGTS. Se apenas uma parte do salário está registrada, será recolhido 8% em cima dessa parte e não do salário total.
Benefícios previdenciários
Assim como algumas verbas trabalhistas, os benefícios previdenciários também são calculados a partir do salário do empregado. Para esse cálculo, o INSS usa o valor que está registrado na folha de pagamento.
Se o trabalhador recebe parte do salário por fora, na hora de calcular alguns benefícios como auxílio-doença, auxílio-doença, salário-maternidade, a Previdência pagará um valor menor. Será menos do que o trabalho fosse completamente registrado.
E sim, isso vale também para aposentadoria. Até mesmo ela pode estar em risco, se o empregado aceitar receber parte de sua remuneração sem o devido registro.

Consequências para a empresa que paga o salário por fora
O principal motivo que leva empregadores a pagar salário por fora é a tentativa de reduzir custos. Afinal, se uma parte do valor não está devidamente registrado na folha, ele reduz os encargos trabalhistas que deve ao governo e ao INSS.
Porém, a médio e longo prazo, esse tipo de conduta pode ser fatal para a saúde financeira da empresa. Como já mencionado, o salário pago por fora é crime. Mais especificamente, crime contra a ordem tributária.
Ao constatar esse tipo de conduta, a Justiça entende como uma omissão de informação e prestação de informações falsas às autoridades. Basicamente, isso pode acarretar em duas situações para o empregador:
- Fiscalização e punição dos órgãos públicos do trabalho
- Ações trabalhistas de empregados
No primeiro caso, não se engane: mesmo que sua empresa seja de pequeno porte, ela pode ser alvo de fiscalização.
O mesmo vale para o segundo caso. Basta o funcionário perceber que está perdendo dinheiro e ele entrará na Justiça reivindicando a integração do que foi pago por fora. Ou seja, o pagamento de toda a verba devida por todo período trabalhado.
O que fazer se seu patrão quer pagar por fora?
Na prática, não dá para negar que pode ser bastante difícil negociar com alguns empregadores, principalmente quando o profissional precisa do emprego. Mas tendo em vista as consequências, vale a pena tentar argumentar.
Na hora de negociar a remuneração, mostre ter consciência dos prejuízos que o salário pago por fora trará para você e de que isso não é o correto.
Caso se dê conta desse erro ao longo do período de trabalho, também pode conversar com o empregador e solicitar as devidas correções. Se isso não for o suficiente, infelizmente a saída será uma ação judicial, abrir uma reclamação trabalhista.
Para o empregador, não tem jeito. A única forma de resolver a situação é integrar o valor pago por fora na folha de pagamento. Sem isso, o problema não será sanado. E é melhor que seja feito antes de uma ação judicial.
Um ponto de atenção é que, atualmente, é muito fácil comprovar que houve salário pago por fora. Se antigamente esse valor era repassado por envelopes e apenas testemunhas podiam confirmar, hoje a tecnologia expande as possibilidades.
Sim, esse tipo de verba continua sendo paga em envelopes na maioria dos casos, justamente porque o patrão quer evitar provas (como comprovantes de transferência bancária). Mas basta um vídeo, áudio ou foto gravado no celular e pronto.
No curto prazo, pagar por fora pode parecer um bom negócio. Mas no longo prazo, sai caro para ambas as partes.
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